Sunday, June 28, 2009

Bing Bling


Estava ao balcão do rent-a-car a ouvir o porquê, num inglês com sotaque mexicano, de não poder alugar um carro do segmento C, conforme dizia a minha reserva. O problema devia-se ao facto de que na agência do Aeroporto de Miami não existirem carros desse segmento, nem naquele dia nem nunca. Parece que por aqueles lados um Focus, um Golf ou um A3, são extravagâncias.

Por detrás do balcão, o Pablo reclamava, entre dentes, com os idiotas das agências de viagens na Europa que teimavam em reservar coisas pouco maiores que um cortador de relva. Lá se acalmou e perguntou-me que viatura preferia, já que me iria fazer um “upgrade” sem que eu tivesse que pagar mais por isso – verdadeiro serviço ao cliente.

Tentei dar o meu melhor no domínio da língua espanhola, e dei-lhe liberdade para que escolhesse ele próprio o melhor que achasse e que fosse com o estilo de Miami Beach.

Saí do silo de estacionamento aos comandos de um mastodôntico Explorer branco. Depois de me habituar às dimensões exteriores da viatura, especialmente aos retrovisores, com a mesma área de uma mesa de “ping-pong”, lá fui seguindo pelo meio do tráfego, entre carrinhas de caixa aberta, muitos carros europeus ou japoneses e todo o tipo de descapotáveis.

Durante a relaxada viagem na “highway” fui-me realmente apercebendo de onde estava metido. O interior era imenso, comparável a um pequeno apartamento em Tóquio e para além dos sete lugares, tinha o “pé-direito” de uma catedral gótica. O selector da ociosa caixa automática, parecia feito a partir de um taco de “baseball”, de plástico. O volante concorria com as jantes em termos de diâmetro e com a antena do rádio em espessura.

Mas o que era realmente um caso à parte eram os plásticos, muito à frente de tudo o resto, algo nunca antes visto. Praticamente tudo é feito em plástico, num carro europeu, japonês ou americano, mas em Detroit eles desenvolveram um tipo especial de plástico. Tão especial que julgo mesmo que o homem terá finalmente criado uma substância com um índice de dureza superior ao diamante. Este novo polímero apenas não brilha como os diamantes, porque de resto tem a mesma prestação e eu tinha a sorte de estar ali a experienciá-lo sob a forma do “tablier” do Explorer. Tinha só que ter cuidado para não riscar o vidro do relógio.

Não conseguia deixar de pensar que se a crise do crédito não tivesse acabado com os construtores americanos então eles acabariam por se exterminar a eles próprios, com a fraca prestação dos seus produtos. A baixa qualidade daquilo que fazem era ali tão evidente, que só me perguntava como é que alguém ainda comprava aquilo.

Mais umas milhas percorridas enquanto o rádio, com o fundo do “display” em negro e as letras em verde, numa versão contemporânea do auto-rádio que equipava o Corolla de 1989, passava um “medley” entre “50 Cent”, “Usher” e “Beyonce”. A música, o clima, a paisagem e as miúdas em bikini, transportavam-me para um espírito mais “hip-hop”. Baixei a janela e aumentei o volume. Ali sentado atrás daquele volante com motivos marítimos (o diâmetro era quase próprio de um veleiro), certamente que parecia um “hobbit”, mas isso não me importava, porque o Explorer era grande, alto, branco e com uma grelha cromada. Reduzi o ritmo e entrei em “cruising mode”, com aquele pachorrento V8 a ronronar debaixo daquele “court” de ténis a que alguns chamam “capot”.

Começava a perceber então, a razão de ser da indústria automóvel americana. Nós por cá construímos tudo para durar pelo menos 50 anos, porque muito do que nos rodeia foi construído há mais de 500. Os japoneses constroem tudo para durar mil anos, porque a sua cultura e forma de ser, tem mais de dois mil. Do outro lado do oceano, 200 anos são uma eternidade. A noção de futuro está associada com o que foi o passado e enquanto na Europa começava a segunda revolução industrial, na América do Norte ainda havia pioneiros a caminho do Oeste.

O Explorer foi feito para durar tanto quanto uma canção de hip-hop no top10, depois será vendido a um mexicano e muito provavelmente substituído por um Escalade. O carro americano é feito para o ir ao “drive-in”, para a MTV, para as estradas sem curvas, para a gasolina barata, para o “bling-bling", para o Overhaulin, para usar e deitar fora, o mais rápido possível.

2 comments:

P. said...

Estou neste momento a trabalhar em Luanda e sei exactamente ao que te referes... O carro com que ando tb é um Explorer (cinza, nao branco...) Com um V8 a gasolina... Nunca senti tanta cavalagem despediçada, o curioso é que ao lado dos H2 que aqui chegam a andar ao atropelo, o explorer parece pequeno... Pequeno e económico que com 80lts chego a fazer 300km's!!!

Anonymous said...

mas se um V8 ronronando embaixo do capot ja é um tesão... acelerando é que ele te joga pra tras...
me desculpe, mas um carro frances (peugeot, renault ou qualquer outra marca q tenha q fazer biquinho no final) não dura um decimo do que dura um v8 americano!