Tuesday, August 12, 2008

Concorde e o canto do cisne


Nunca escrevi aqui sobre aviões, até porque não sei se os aviões têm lugar num espaço que se propõe ao debate do desporto motorizado. Por outro lado, os aviões têm motor e queimam gasolina e esses são os pré-requisitos para qualquer coisa aparecer por aqui. Pode até haver discórdia sobre o facto de estar a escrever sobre algo que só utiliza as rodas na sua velocidade mais baixa, mas se tal tiver como nome “Concorde”, julgo que ninguém levará a mal.

Já há bastante tempo que ando para escrever acerca deste pássaro alado de criação humana, mais precisamente desde 2003, quando numa das mais cobardes decisões da história da civilização, se decidiu deixar em terra o mais belo e avançado avião de passageiros de todos os tempos. Digo que a decisão foi cobarde, porque não honrou a coragem, o vanguardismo, a ousadia e a genialidade, que estiveram sempre associados a esta máquina voadora, durante os seus quarenta anos de vida.

Há quem relate que quando questionado, um dos engenheiros da NASA responsável pelas missões Apollo, afirmou que colocar um avião como o Concorde no ar era mais complicado que colocar um homem na Lua.

Foi assim um passo gigante para a humanidade, que mostrou outrora que a Europa também era capaz de executar algumas das maravilhas modernas.
Voou quase quarenta anos, mas ainda hoje o seu design parece só agora ter saído do estirador.

Nunca voei no Concorde, mas um dia poderei dizer que no meu tempo existiu algo que nos permitia ver, no mesmo dia, o pôr-do-sol em dois continentes diferentes. Algo que permitia a qualquer um voar a MACH 2 e ver a curvatura da Terra, com um copo de champanhe na mão. Uma máquina que voava tão alto e a uma velocidade tal que o peso dos seus passageiros variava durante a viagem. Eu sou desse tempo, os meus filhos, a não ser que sejam pilotos da Força Aérea, mesmo que queiram e possam pagar o bilhete nunca terão a possibilidade de experienciar algo semelhante.

Desistir assim de uma das maiores conquistas do homem, sem que exista algo que a substitua é andar para trás, é assumir que não somos capaz de fazer melhor que os que nos antecederam. É como se após a descoberta do fogo, tivéssemos apagado a fogueira só porque alguém se tinha queimado.

2 comments:

Anonymous said...

este post tá muito bom... são daquelas coisas que nunca compreendi, retirarem este "marco" fabuloso do ar...

hitardo said...

Obrigado pelo post!!!
Este é o único avião que me faria ficar do lado de fora da cerca de um qualquer aeroporto a admirar a sua aterragem ou descolagem. Ao lado dos paparazzi ou dos aficionados dos aviões (não me lembro do termo técnico).

O que me chateia nesta história toda é que os especialistas na aviação dizem que o Concorde exige muito disto e daquilo... Não discuto se envolve grandes esforços MAS o que estes senhores se esquecem é que se tivessem havido tantos "velhos do Restelo" na altura dos irmãos Wright a aviação não seria o que é hoje

Para mim isto envolve "Velhos do Restelo" e o medo dos americanos da Boeing perderem mais vendas para a Europa, até para os aeroportos do seu país.
Sim, porque a feroz concorrência que vigora nos EUA, em todas as áreas, obrigaria as companhas a oferecerem um serviço mais rápido: com o Concorde.