Wednesday, December 05, 2007

Vale a pena repensar o Autódromo - crónica de Ricardo Grilo



O site Spormotores apresenta regularmente crónicas referentes ao automobilismo nacional. A última foi escrita por Ricardo Grilo e é de tal relevância que não resisti a transcrever uma parte aqui:

"Por fim, tememos que, nos termos em que está a ser feita, a venda do Autódromo do Estoril possa ser a maior barbaridade, o maior atentado ao desporto automóvel em Portugal, desde a realização do primeiro Figueira da Foz-Lisboa, há mais de 100 anos. Os contornos são conhecidos de todos e o resultado previsível indica um futuro pouco brilhante para a pista do Estoril. Só que, pelas mais diversas motivações, ninguém quer admitir o que é óbvio. Não existe nenhuma pista nacional com um nome tão conhecido, com uma imagem comercial tão consolidada a nível internacional (com mais-valia comercial que isso acarreta), não existe nenhum outro local de prática de desporto em Portugal com um palmarés tão rico (nem nos estádios do pontapé na bola), com 12 provas a contar para o campeonato do mundo de F1 (os estádios apenas tiveram um mero europeu de futebol), várias provas para o campeonato do mundo de motociclismo, F2, FIA GT, Europeu de Turismos e de GT, ELMS, DTM, Rallye de Portugal, sei lá, tudo o que de mais importante se realizou a nível do desporto automóvel mundial, passou pelo asfalto ao Estoril. Isto acarreta ao recinto um valor desportivo incomensurável, e se é verdade o que afirmou António Capucho, ou seja, que os responsáveis da Parpública definiram um preço de venda de base especulativa, seremos levados a concluir que ou estes não estão informados sobre o real interesse desportivo e nacional do recinto, ou, pior, estão-se nas tintas para estes detalhes e apenas desejam facturar no imediato o que as gerações vindouras lamentarão no futuro. É um erro pensar que o desporto automóvel nacional pode sobreviver sem pistas perto dos grandes aglomerados urbanos (basta ver o que sucede com o GP de França, disputado numa pista longe de tudo e de todos) e se o Estoril tem muitas vezes as bancadas vazias, tal se deve à falta de promoção capaz das suas provas e não a qualquer desinteresse dos "mouros" pelo fenómeno automóvel. Apenas é necessário que lhes expliquem o que de bom se passa na melhor pista nacional e que se criem condições para que ela exista por muitas e boas gerações. Até porque a escolha actual se coloca entre termos mais uma urbanização entre mil (ainda para mais num parque natural) ou a continuação de um espaço verde, dedicado ao desporto, com repercussões internacionais de valor não negligenciável. Esta operação de entrega de património é tão absurda que até no campo ecológico a manutenção do circuito do Estoril é um imperativo incontornável. Refira-se que nos espaços entre a pista poderiam (e deveriam) ser plantadas centenas de árvores que criariam uma barreira sonora e visual que ajudaria a manter o contorno e a magia da Serra de Sintra, cada vez mais violentada pelo avanço claro e perturbador de urbanizações, ditas de qualidade. A escolha parece-me óbvia."

A totalidade da crónica pode e deve ser lida no site do Sportmotores.

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